domingo, 10 de dezembro de 2017

No clima

É uma atmosfera única e muito especial. São cenas que todo ano se repetem, invariavelmente. As casas de veraneio ganham os últimos retoques para receber os visitantes. Empreendedores sazonais e aqueles que "seguram o rojão" durante a "baixa temporada" também dão uma mão de tinta nas paredes e checam o estoque para abrirem as portas. Apesar dos pesares, dessa nuvem densa e depressiva que paira há muito sobre o país, nossa gente se esforça para sorrir à espera dos dias quentes, coloridos e felizes do verão. É aquele frenesi que se aproxima. Carros, pessoas, sons e um marcante cheiro de protetor solar e milho cozido pelo ar.

Saudosistas de um tempo que tem cadeira cativa na memória, sabemos que certos lugares e até mesmo muitos costumes não voltam. Foram engolidos pela ambição desvairada ou mesmo por algumas ações desastrosas, em que pesem as boas intenções, mas também pelo monstro pós-moderno, esse mesmo que não se preocupa com a posteridade, cujos valores estão presos ao instantâneo. O que vale é o agora e nada mais. O instante seguinte, não sabemos. A memória sobre tudo isso, muito menos. Mas, somos teimosos. Românticos, diriam alguns. Bobos, iludidos, quem sabe. Tudo bem, insistimos porque uma convicção nos acompanha: não preservar a memória é o mesmo que não preservar nosso lugar, nossas origens e aquilo que nos faz bem. E quem é que, em sã consciência, quer se sentir mal?

Lembramos dos momentos que, de alguma forma, nos fazem bem. Nossa missão é provocar suspiros - alguns doídos -, sorrisos, lágrimas de saudades e vontade de viver em felicidade. Ainda lembramos daquilo que tem potencial para nos ensinar, provocando a reflexão de forma a evitar a ocorrência das citadas ações desastrosas. Mas lembramos também que podemos colocar o pé no freio e resistir ao monstro. Quando ele chegar com a urgência e a sua fome por velocidade, que pensemos em prosear, em gargalhar, em cultivar o tête à tête. Em ficar nas calçadas com boas companhias, madrugar ao som de um violão e curtir a brisa única do nosso lugar. Teremos, então, novas memórias. Memórias maravilhosas de uma Marataízes que, sim, a um novo modo, pode ser cada vez mais queridas por todos.


Essa turma aí, posando em um "buggy", entre algumas pranchas de surf, guarda lembranças mágicas desse verão de 1986. Não há dúvida disso. E essa imagem nos coloca no clima. Vamos fazer um verão de grandes memórias!

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Marataízes em seus tempos de ouro

Essa é a Praia Central de Marataízes da década de 1970, que habita a memória de muitas pessoas e que, ainda hoje, provoca suspiros saudosos.

É possível ver o grande movimento de um dia ensolarado, provavelmente no verão, em frente ao Praia Hotel e boa parte da avenida Atlântica (do antigo "Chalé 70" em direção ao - também antigo - Xodó) sem pavimentação. Construções que hoje não fazem mais parte do cenário do local, pedestres, banhistas (muitos!), um típico maratimba e seu burrico carregando cestos de peixes (ou seriam verduras e frutas?), a restinga...

O riquíssimo achado reúne sete imagens e foi compartilhado na rede por Petter Meleipe. Convidamos a uma viagem pela nossa Pérola Capixaba. Desfrutem!








terça-feira, 31 de outubro de 2017

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Um dia qualquer

A tranquilidade própria da Marataízes dos anos cinquenta...


Imagem compartilhada por Marisa Gonçalves Mignone Paixão.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Parabéns!

Nossa homenagem para Ivilisi Soares de Azevedo, aniversariante do dia, aqui ao lado de seu pai, o coronel José Marques Machado Soares, na Barra do Itapemirim de início dos anos setenta.


Foto do acervo da família Soares.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Casarões

Mais uma imagem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Desta vez, vemos a Avenida Governador Lacerda de Aguiar nos anos sessenta. Destacam-se os postes dividindo a avenida ao meio e os casarões. Alguns imóveis, como a casa de verde de madeira, localizada na área da família Vivácqua, e a "Villa Lucinia", construção de 1936, continuam de pé. Outros, no entanto, foram para o chão. A primeira casa à direita, onde chegou a funcionar a "Casa do Artesão", foi demolida recentemente. 


Marataízes não dispõe de legislação própria para o tombamento de bens móveis e imóveis. Os poucos imóveis tombados no município passaram pelo processo via Conselho Estadual de Cultura. Defasado, o Plano Diretor Municipal - PDM, datado de 2007, indica edificações consideradas de interesse para tombamento. Algumas delas estão localizadas na Avenida Governador Lacerda de Aguiar e outras tantas na região histórica - que, julgamos, poderia se constituir um "sítio histórico" - da Barra do Itapemirim. 

A imagem acima chegou ao nosso conhecimento através da colaboração de Rubens Borges. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Outro formato

A antiga Praça da Barra, que mais parecia um pequeno "parque. Datada de meados da década de 1970, a fotografia foi registrada das proximidades da Escola José Marcelino.


Imagem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dica de Rubens Borges.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Paz


Centro de Marataízes, anos quarenta do último século.

Uma paz que só.

Registro compartilhado por Marisa Gonçalves Mignone Paixão. 

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Tão distante...

Anos 2000 e o Trapiche ainda conservava parte da fachada frontal. Se uma restauração talvez não seja viável tecnicamente, o imóvel ainda aguarda uma solução que preserve minimamente suas características arquitetônicas, além de conferir destaque à sua importância histórica para nosso município.


Foto publicada no site Morro do Moreno.


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Gabiões

Imagem do início dos anos 2000 mostra os alguns dos gabiões instalados com o objetivo de reverter os efeitos do avanço da maré na Praia Central.


Como é sabido, a solução para o problema veio apenas a partir da construção do píer, entre 2007 e 2008, e com o enrocamento e "engordamento" da praia nos anos seguintes.

Foto: Webfind.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Vai ficar bom. Vai ficar saudade


Falamos aqui sobre como é difícil lidar com a perda dos "lugares de memória" ao tratar do desmanche da antiga lanchonete Mickey. Também já retratamos a famosa "Curva da Barra" antes de ser modificada para dar lugar à rotatória. Hoje é dia de mostrar a Praça da Barra em um dos últimos registros, feitos na semana passada, antes do início da reforma que dará a ela outras características.

Entendemos que as coisas mudam. Nada é para sempre e, definitivamente, não podemos viver aprisionados ao passado. As memórias, as relações afetivas com os espaços, contudo, precisam ser compreendidas e respeitadas. Aí mora um problema.

Há muito a população e comerciantes do local reclamavam pela reforma. É necessária. No entanto, as intervenções nos espaços públicos, via de regra, não são tratadas devidamente com o... público. Assim, ignoram-se pontos importantes e sepultam coleções de memórias. Tudo bem, alguns podem argumentar, nascerão outras. Certamente. Mas e as primeiras ainda vivas?

O chão será revestido com outros materiais e não mais as pedras portuguesas. Algumas árvores com décadas de existência foram arrancadas para que outras preencham a praça. Até mesmo o ar bucólico e histórico do lugar será substituído por um ambiente mais moderno, iluminado, com novos equipamentos que, não nos restam dúvidas, darão a Marataízes um espaço para o exercício do lazer e da sociabilidade importantíssimo. Afinal, como somos carentes desses espaços...

Nada disso parece resolver o problema das memórias, as primeiras, ainda vivas. Precisamos falar sobre isso. Pensar sobre isso. Agir sobre isso. Um local para abrigar as memórias, talvez, ajudaria bastante. Aliás, temos esses locais. Fisicamente.

Vai ficar bom, sim, mas vai ficar também a saudade.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Paz no mundo, mas aqui foi "guerra"

Um dos maiores festivais de música do mundo, o "Rock in Rio" chega à sua sétima edição em solo brasileiro. Artistas de vários países e estilos (afinal, há muito o festival assumiu a bandeira do "ecletismo") se apresentam na "Cidade do Rock", no Rio de Janeiro, a partir da próxima sexta-feira, dia 15.

Voltamos a uma cena que liga Marataízes ao festival e que permanece viva na memória de muitos. Em 2001, após um hiato de uma década, o "Rock in Rio" voltava a acontecer. No dia 14 de janeiro, um domingo, se apresentariam no "Palco Mundo" artistas do quilate de Ira! e Ultraje a Rigor, Oasis, Guns n' Roses (uma das atrações mais aguardadas daquela edição) e... Carlinhos Brown, um dos grandes expoentes da música popular brasileira contemporânea, mas que não foi muito bem recebido pelo público.

Muito vaiado, Carlinhos discursou para o público. Em vão. Centenas de latinhas e garrafas de água mineral foram arremessadas sobre o palco. O artista tentava, sem sucesso, se desvencilhar dos objetos até que decidiu enfrentar os ataques. Eis que Brown enxerga em meio à multidão uma faixa com uma mensagem bastante apropriada à ocasião.


"Paz no mundo". O recado foi dado por algum espectador de Marataízes. Pronto. Estava feita a "guerra". Comentário geral na cidade em um tempo anterior à popularização da internet. Era nas padarias que o assunto corria. Quem fez a faixa? Duas empresas dessas de plotagem disputavam a proeza. "Fomos nós! Tenho a segunda via do recibo"; "Só eu tenho a máquina que faz essa letra. Comprei em São Paulo". E a contenda durou alguns dias. Até a paz finalmente reinar também aqui.

Assistam também ao vídeo da "chuva" de garrafas sobre Carlinhos Brown e a mensagem de Marataízes para o mundo.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

"Um olhar sobre Marataízes" direto de Cachoeiro

O fotógrafo Reynaldo Monteiro inaugura nesta segunda (11) a exposição "Um olhar sobre Marataízes" em Cachoeiro. Os registros sobre diferentes pontos do município, com destaque ao nosso patrimônio natural, deixam clara a sensibilidade de Reynaldo, reconhecida e reverenciada por fotógrafos amadores e profissionais.

"Os registros desnudam alguns aspectos do lugar que até seus moradores não percebem, além de revelar uma percepção artística especial da fotografia, apresentando, em cada peça, um instante único e mágico. É a garça voando, é a lua majestosa no céu", explica o artista.

As fotografias ficarão expostas entre segunda e sexta-feira até o dia 31 de outubro, na Sala Levino Fanzeres, no Palácio Bernardino Monteiro (sede da prefeitura), no centro de Cachoeiro. A mostra conta com o apoio da Complaca e da Secretaria Municipal de Cultura de Cachoeiro de Itapemirim.

Clique na imagem para mais detalhes

Sobre Reynaldo Monteiro

Além de fotógrafo e músico, Reynaldo Monteiro é engenheiro formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ele participou de várias exposições fotográficas no Rio de Janeiro, Vitória e Marataízes. Como músico, foi o primeiro pandeirista e um dos fundadores do Conjunto Galo Preto, uma das referências do chorinho nos anos 1970, com muitos shows em diversos teatros.

Também participou da trilha sonora do filme nacional "Ladrões de Cinema". Multi-instrumentista, Reynaldo possui composições solo e, também, com parceiros. Frequentou o Ateliê de Gravura do Sesc Tijuca (RJ), produzindo gravuras em metal e participando de exposições e salões.

Com informações da Folha Vitória.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Pesca esportiva


Marataízes tem uma vocação histórica para o esporte. Acima vemos a premiação (certificado e medalha) do primeiro campeonato de pesca de Marataíses (grafado com "s"), então principal balneário de Itapemirim. O campeonato foi realizado entre janeiro e fevereiro de 1958 e o título da oitava rodada da competição ficou nas mãos de um certo Sebastião Ribeiro.

A pesca esportiva ainda é praticada, ainda que fora de competições, em várias praias do município, especialmente naquelas de "mar aberto". Marataízes poderia reivindicar para si a condição de "capital" da pesca esportiva no sul do Espírito Santo, o que certamente atrairia inúmeros competidores que colecionariam, além de títulos, deliciosas memórias em nosso lugar.

A imagem foi compartilhada por Fábio Pirajá no grupo "Memória Capixaba".

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Para lá e para cá

Avenida Atlântica, no Centro, em meados dos anos setenta. A pista de mão dupla com canteiro central (repleto de amendoeiras - aparentemente - e banquinhos para a contemplação da Praia Principal) denuncia tempos de tranquilidade com relação à erosão marinha. Anos antes, por volta de 1962 ou 1963, uma forte ressaca atingiu todo o quebra-mar.


Foto compartilhada na rede por Fabiano Marvila Moreira.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Há ruína

Imagem compartilhada pelo Professor João Eurípides Franklin Leal nos traz o Trapiche, já em ruínas, em meados da década de 1970.


Não somos adeptos ao "se" na História. É inútil debruçar sobre aquilo que deveria ter sido feito - e, se deveria, não foi feito. A não ser para escancarar a omissão compartilhada de décadas a respeito da situação prédio. A imagem, contudo, deixa clara a oportunidade desperdiçada de termos, hoje, um conjunto arquitetônico belíssimo preservado de modo quase integral na região portuária da Barra do Itapemirim.

Cabe-nos, então, lamentar, em que pesem as cíclicas promessas de restauração (sic) do imóvel. Mantemos a defesa da preservação das ruínas, com limpeza, sinalização e iluminação, bem como conferindo o devido (leia-se com o respeito às orientações estritamente técnicas) cuidado com o seu entorno, evitando intervenções desastradas que debilitem ainda mais o que resta, hoje apenas uma das paredes laterais e algumas colunas no interior do terreno.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Invernada

Conhecido postal dos anos sessenta mostra três banhistas aproveitando a tranquilidade da Praia Principal, provavelmente na época da "invernada". Ao fundo, vemos outros banhistas em um pequeno grupo, além de maratimbas cuidando de suas embarcações e a "igrejinha" de Nossa Senhora da Penha em seu formato original.

Há quem prefira a calmaria desse período...


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Ainda com a águia

Registro de Sergio Aride, feito em 1988, mostra o "Palácio das Águias", na Barra do Itapemirim, já em estágio avançadíssimo de degradação. As linhas originais da construção, porém, estão bem visíveis, bem como a águia no entrocamento entre a fachada frontal e uma das laterais.


Patrimônio histórico tombado pelo Conselho Estadual de Cultura, o imóvel foi reformado e entregue à população em 2010. A edificação abriga a Biblioteca Municipal e recebe inúmeros eventos culturais.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Areia branca, fina e batida

Não sabemos vocês, mas temos uma saudade peculiar. Marataízes mudou muito, em todos os sentidos, e continua a mudar. Todos os dias. Estamos em constante mutação. Até aí, nenhuma novidade. Não alimentamos a ilusão de viver aquilo que passou. Mas vivemos saudades. E como vivemos!

Sobre a nossa saudade peculiar: a imagem abaixo denuncia. Encontrada na web, sem referência sobre a autoria, encontramos a nossa Praia Principal, provavelmente em 2009, com as suas areias ao natural: brancas e finas. E bem batida. Piso duro mesmo! Com maré baixa, virava uma imensa quadra com cocos ou "havaianas" servindo de traves e "peladas" rolando por toda a extensão da praia.


Não adianta. "Entrar na foto", com vez ou outra escrevemos, é uma vontade grande e sempre presente. Mas, hoje, a praia tem outra cara. As areias do aterro têm conchas do fundo do mar, são mais grossas e amareladas. O caminho até a água é mais longo. O pisar é mais cercado de cuidados.

Os engenheiros responsáveis pela obra que deu nova vida e nova cara à praia garantiram que, com o tempo (mas é muito tempo mesmo...), as areias brancas e finas voltarão. Enquanto isso, vivemos saudades.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Sempre brilhará!

Ontem, seis de agosto, completaram-se cinco anos sem o maior nome do blues no Brasil. Celso Blues Boy, nome aplaudido por ninguém menos que B.B. King, deixou órfã uma legião de fãs, que teve a oportunidade de contemplar o seu talento em Marataízes.

O palco, o "Nativo". Um dos últimos grandes shows nacionais em um recinto privado de Marataízes. Aqueles que passavam por aqui naquele janeiro de 2011, um verão mágico, assistiram a uma performance inesquecível.


O registro de Ricardo Mignone mostra Blues Boy dedilhando sua guitarra ao lado do grande Saulo Simonassi. 

Abaixo, um "aperitivo" daquele show em vídeo feito por Ronald Mignone. Aumenta que isso aí é rock n' roll! 

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

No 'fim' da Barra

Família posa em frente a uma casa na avenida Cristiano Dias Lopes, na Barra, em fins dos anos setenta. Ao fundo, o caminho para a Vila.



Foto compartilhada por Julier Marconcini de Melo.


sexta-feira, 28 de julho de 2017

Embarque para a memória


Durante muitos anos, até meados da década de 1990, a antiga estação ferroviária do centro de Marataízes abrigou a sempre rodoviária do balneário. Na imagem acima, vemos o imóvel ainda em seu formato original, sem a intervenção que promoveu a sua ampliação. Ao lado da avenida, no ponto de embarque, uma mulher parece aguardar a sua condução enquanto um homem entra na rodoviária e duas outras pessoas caminham em direção à Praia Principal. Já no desembarque, um veículo da viação Itapemirim, provavelmente vindo de Cachoeiro de Itapemirim, numa época em que os horários de ônibus não eram tantos e uma viagem entre Marataízes e a "Capital Secreta" era quase um "evento".

Créditos a Fábio Pirajá e ao grupo "Memória Capixaba" no Facebook.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A força do café

O registro abaixo mostra a primeira página da demonstração da receita e da despesa do município de Itapemirim durante o mês de março de 1893. Parte do "Fundo Fazenda", depositado no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, o documento é datado de abril daquele ano e deixa evidente a importância dos impostos cobrados sobre a exportação do café para o município. Do total de tributos arrecadados, mais de 95% estava diretamente relacionado ao comércio do grão pelo porto da Barra do Itapemirim.


É razoável inferir, portanto, que a extrema dependência do café para as finanças municipais foi crucial para a decadência econômica da região na medida em que, a partir dos governos republicanos, a capital capixaba recebia maiores investimentos em melhorias na infraestrutura logística para a exportação, retirando o protagonismo do porto da Barra do Itapemirim.

Da mesma forma, é aceitável a conclusão de que, ainda em 1893, apesar das inúmeras dificuldades operacionais no porto da Barra, era intensa movimentação de grandes navios cargueiros na chamada "Boca da Barra" (ponto de ancoragem possível dado o baixíssimo calado nas margens mais próximas ao Trapiche dos Soares). Geralmente, as embarcações vinham de Salvador e do Rio de Janeiro para carregar seus porões com o café produzido na região sul capixaba e no norte da zona da mata mineira. 

O documento foi compartilhado por Victor de Moura.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Primórdios

Talvez seja o registro em foto mais antigo da Praia Principal. Podemos ver a Marataízes do ano de 1922, em data anterior à construção da Igreja de Nossa Senhora da Penha. O cenário é quase todo tomado pela configuração natural da praia, "salpicada" por algumas (pouquíssimas) construções.

Registrada em publicação sobre a qual não temos referência, a imagem foi compartilhada por Marisa Gonçalves Mignone Paixão.


Reproduzimos a seguir a legenda da imagem registrada na publicação. Ela nos fornece mais algumas preciosas informações sobre este momento da ocupação da praia.
"Marataízes em 1922. No primeiro plano, a 'sub-estação de força elétrica', inaugurada no governo do presidente Nestor Gomes. A casa assinalada, de madeira, foi construída pelo Sr. Mário Rezende e ficava onde hoje é a Avenida Lacerda de Aguiar".

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O passado e o descaso


Quem visitasse a região portuária da Barra do Itapemirim no ano de 2007 teria essa visão. Em nada remete a riqueza trazida na intensidade do movimento de barcos e balsas carregadas de café, açúcar, milho, madeira, entre outros produtos, em fins do século XIX e início do XX. Desse tempo, até então, apenas a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes tinha sobrevivido sem maiores traumas. O Trapiche e o Solar dos Soares, o "Palácio das Águias", acusaram o golpe da ausência de investimentos no porto e da adoção de outras vias para o escoamento dos gêneros agrícolas do sul capixaba. O ostracismo ao qual essa área foi submetida durante décadas ofuscou em parte a grandiosa história do local, ainda por ser contada plenamente.

Foto compartilhada por Victor de Moura.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Festa maratimba!

Praia Principal, década de 1960. Maratimbas exibem o seu troféu.


Bem desgastada pelo tempo, a foto chegou ao nosso conhecimento através de Riam Alves, neto de um dos pescadores da imagem e morador do bairro Santa Tereza, no Alto Marataízes.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Curvas

Um belíssimo cartão postal do início dos anos 2000 mostra algumas das nossas curvilíneas praias, destacando a do Carone (ou do Iate ou... da Morte), em primeiro plano, a Colônia e a Areia Preta.


Imagem compartilhada por Jorge Penedo.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Prosa e benção

Um homem e uma mulher conversam em frente à antiga Igreja de Nossa Senhora da Penha. À esquerda da imagem, o Saveiros Palace Hotel se destaca por sua então moderna arquitetura. Já ao fundo, a imponência do Iate Clube, palco de saudosas lembranças.


Provavelmente de meados dos anos setenta, o registro foi compartilhado por Fábio Pirajá no grupo "Memória Capixaba", que presta um serviço de inestimável valor para a preservação da história e da memória do Espírito Santo.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Trabalho


Sempre que possível, rendemos homenagens aos trabalhadores do porto da Barra do Itapemirim. E sabemos que elas devem ser ainda mais presentes.

Na imagem acima, compartilhada pelo antigo portal "Marataízes.tur", vemos homens no cais do porto posando para a fotografia.

O ano era 1948. O grande número de trabalhadores revela que a intensidade do movimento no porto, embora diminuída em razão da ligação direta entre as regiões produtoras dos principais gêneros agrícolas exportáveis e os grandes centros, ainda era flagrante. Este movimento, mantido pelos autênticos maratimbas, ainda pode ser verificado todos os dias no local. Para a perpetuação da história dos trabalhadores do porto da Barra do Itapemirim.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

1974

1974. A Marataízes ainda viva nas lembranças de muitos. A Praia Central e suas areias finas e mais claras, uma pequena embarcação e centenas de pessoas se banhando nas águas calmas daqueles tempos. Ao fundo, sempre presente, o Praia Hotel e a K-bana, uma das opções de lazer mais frequentadas à época.


Fotografia cedida por Marilene Duarte e compartilhada na rede por Higner Mansur.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

De volta

Após um breve recesso, estamos de volta para mais uma temporada da "Memória Marataízes".

O ânimo para seguir com o projeto e os nossos objetivos permanecem os mesmos. Melhor: estão reforçados! Queremos continuar contribuindo, ainda que modestamente, para o resgate das memórias sobre o nosso lugar, que é repleto de história e outras riquezas ainda por serem descobertas.

Contamos com a companhia de todos para mais uma etapa da nossa viagem. Sigamos!

terça-feira, 16 de maio de 2017

Porto

Foto publicada na revista "Vida Capichaba" (escrita com esta grafia, com ch), trazida à rede por Ronald Mansur, mostra o Porto da Barra do Itapemirim nos anos vinte do último século. Com um fluxo ainda considerável, em que pesem as dificuldades habituais na navegação pelo Itapemirim, a nossa região portuária ainda fazia jus a registro na imprensa em âmbito estadual.


terça-feira, 25 de abril de 2017

No balaio

Falamos de memórias bem vivas. Dois homens estão em seus animais de montaria. Chapéus para proteger do sol que, embora caminhando para o poente, ainda castigava os maratimbas que, certamente, estavam na lida desde muito cedo, desde antes mesmo de o sol surgir ao leste. Os balaios talvez estivessem cheios, talvez vazios. Deviam ter vendido tudo ou, então, estavam levando algum peixe para casa, para dar de comer aos seus.


Os homens passavam ao lado da antiga Igreja de Nossa Senhora da Penha, igrejinha dos anos vinte que seria mutilada nos oitenta. Talvez tenham pedido a benção dos céus. Era uma jornada que estava se encerrando. Vão para casa, descansar ou, quem sabe, ainda encontrar ânimo para remendar a rede, ajeitar um apetrecho aqui, outro ali. O hoje já foi e "amanhã tinha mais".

Ah, o balaio também pode carregar a saudade.

Foto compartilhada por Fábio Pirajá no grupo "Memória Capixaba".

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Cartão de visita

A Praia Principal (ou Central) sempre foi o nosso principal cartão de visita para quem chega a Marataízes. Isso desde antes da supremacia do transporte rodoviário, a partir da década de cinquenta do último século, e a ligação da BR à nossa praia pela Safra x Marataízes. Os turistas que vinham de trem partindo de Cachoeiro passavam por Campo Acima, Vila e Barra antes de chegar ao "Largo da Estação" (aqui vai uma sugestão para batizar aquele local), no centro do principal balneário do sul do Estado. Dali caminhavam alguns metros e pronto: a "encantada" com suas areias brancas e finas e seu mar geralmente tranquilo.

As fotos que ilustram o post de hoje mostram certamente a visão que muitos visitantes tiveram por anos e anos ao chegar a Marataízes. É fácil imaginar a euforia de quem se deparava com esse cenário.

Estamos no fim dos anos setenta. A praia dividia com Guarapari a predileção sobretudo dos mineiros da Zona da Mata (Juiz de Fora, Ubá, Leopoldina, Cataguases, Muriaé, Miraí...). Famílias inteiras se programavam durante o ano para uma temporada que poderia durar meses. Quem não podia se dar a esse luxo, aproveitava feriados como o da Semana Santa e enfrentava algumas horas de estrada passando por Eugenópolis, Itaperuna, Bom Jesus do Norte, Apiacá (ou Santo Eduardo, se preferissem a estrada pelo estado do Rio de Janeiro), até chegar à 101.


Na Safra, o coração acelerava. Está chegando! A cana compunha a paisagem, mas os vidros dos carros vinham abertos (até porque falamos de um tempo em que o ar-condicionado nos carros talvez não existisse nem na imaginação daqueles que adoravam exercitar a "futurologia") para sentir a brisa que, muitos garantem, mesmo no alto da Graúna, trazia o cheiro do mar. De repente, os primeiros postes. É o sinal de civilização. Pescoços esticados procuram o mar. E ele surge. Alegria!


As imagens foram feitas em frente ao antigo "Chalé 70". Em direção à praça central, vemos uma pista dupla e o calçamento aparentemente recém-feito. Ao fundo, o edifício Carone sendo construído. A Igreja Matriz também se destaca, assim como o icônico Praia Hotel.

Os registros foram compartilhados na rede por Fabiano Marvila Moreira.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Elegância

A pose para ser retratado. Chapéus, ternos, postura altiva, o olhar quase sempre fixo no retratista. Uma aglomeração em frente à estação da Barra do Itapemirim, localizada na esquina das atuais avenida Simão Soares e rua Dr. Jaime Santos Neves. Não se sabe se chegavam, se partiam ou se apenas estavam por ali para observar o movimento das pessoas e cargas vindas de Cachoeiro e da região do Caparaó.

Anos quarenta do último século e o boom rodoviário ainda não havia engolido as ferrovias. Boa parte da produção cruzava o sul capixaba nos vagões e a cabotagem conferia intensidade ao porto da Barra que, embora precário em infraestrutura - um problema crônico que o acompanhou desde o início da navegação a vapor pelo Itapemirim, em fins do século XIX - ditava os rumos da economia microrregional. A elegância flagrante na imagem traz uma possível Belle Époque aos moldes locais, fruto desse vigor nas atividades portuárias.


O registro compõe o acervo da Família Soares, administrado por Ivilisi Soares de Azevedo. Esteve recentemente em exposição na antiga sede da Associação Cristã Beneficente - ACB, na Barra do Itapemirim.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Sete casas

Tudo bem que a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes ao fundo tenta roubar a cena, mas nós chamamos a atenção para outros personagens. Pés no chão, liberdade... Crianças brincam na rua conhecida como "das sete casas", no coração da Barra do Itapemirim dos anos setenta.

Infâncias e juventudes diversas foram forjadas com pés nos chão, nas ruas de terra da Barra, da Cidade Nova, do Centro e de tantos outros cantos que compõem nossa Marataízes. Sem qualquer exagero, podemos afirmar que essa fotografia consegue sintetizar o espírito, a atmosfera de uma época. Poucas geringonças eletrônicas, muitas brincadeiras nas ruas: pique-pega, pique-esconde, pique-alto, pique-bandeira, pique-qualquer-coisa, "boleba" (ou "bilosca" ou, ainda, "bola de gude"), pião, "golzinho fechado", pipa, guerrinha de mamona, entre tantas outras brincadeiras eram parte da rotina. Daria até para fazer uma enciclopédia das brincadeiras de rua (será que existe?).

Enfim, essa Barra ainda habita corações e mentes meio "sebastianistas", sabe?.. Será que, mesmo em sentido oposto à correnteza, ainda dá para resgatar esse espírito, essa atmosfera? Um tempo que corria mais devagar e que, ainda assim, passou depressa demais.


Imagem compartilhada por Isabella Marinuzzi.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Longe

De um tempo em que as distâncias eram um pouco maiores, a nossa Pérola no início dos anos oitenta. A avenida ainda não era pavimentada do antigo "Chalé 70" em direção ao "Xodó", o que aumentava a sensação da "lonjura" entre o centro e aquele badalado point da época. Pausa. Um suspiro para o "Xodó". Outro grande para o "Veleiros"...


Registro de Sergio de Camargo Baena.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Voo

Convidamos a todos para um voo ao ano de 1989.

Imagens fantásticas de uma Marataízes que deixou saudades. As ruas sem calçamento e a Praia Principal (ou Central) em seu formato original, com areias brancas e finas, chamam a atenção. Um dos primeiros "focos" do vídeo foi para a então recém-inaugurada ponte lingando a Barra do Itapemirim ao Pontal. Também merece destaque ocupação ainda não consolidada de diversos bairros do balneário, que ainda integrava o município de Itapemirim.

À Lagoa do Meio, um comentário especial. Bem maior do que hoje em dia, ela ocupava praticamente todo o lado oposto aos bairros Cidade Nova e Arraias. Conseguimos imaginar como a Lagoa do Meio poderia (e ainda pode, na verdade) estar em uma situação bem diferente daquela que, de forma triste, somos forçados a ver.

O filme é acompanhado de uma trilha sonora que nos faz entrar no clima de paz que ele nos transmite. Feito em uma manhã ensolarada a partir de um sobrevoo de ultraleve (os voos de ultraleve faziam muito sucesso na época), o vídeo, editado e compartilhado por Ronald Mignone a partir de imagens de Marcus Waiandt Filho, é um registro de uma época espetacular e, claro, extremamente saudosa.

Chequem os equipamentos de segurança e bom passeio!

terça-feira, 21 de março de 2017

Esperando na estação

A imagem abaixo foi publicada originalmente no antigo portal "Marataizes.tur", responsável por registrar o passado e divulgar as belezas do nosso município.

Trata-se da estação da Estrada de Ferro Itapemirim localizada na Barra do Itapemirim, próximo ao Trapiche e ao Porto. A fotografia dada dos anos 40 do último século e, apesar da baixa resolução, é possível ver algumas pessoas aglomeradas ao redor da locomotiva, retratando o dinamismo social e econômico trazido pela linha férrea.


segunda-feira, 20 de março de 2017

Baixa temporada


A chamada "alta temporada" costumava durar alguns meses. Desde os últimos dias de novembro, algumas casas de veraneio já ganhavam retoques para receber os seus moradores. Passavam dezembro, janeiro e fevereiro, indo embora geralmente após o carnaval. Aqueles que podiam esticar um pouco mais, retardavam a volta para as suas cidades de origem para depois da Festa das Canoas, no segundo domingo de março. Boa parte voltava na "Semana Santa", no feriado de "Corpus Christi" e nas férias de julho.

Agosto, setembro, outubro e a maior parte do mês de novembro serviam para alimentar a saudade dos moradores de temporada.  Também eram dias de calmaria nas ruas da cidade. A imagem acima, compartilhada por Bel Meleipe Peixoto, mostra exatamente o bucolismo em frente ao Praia Hotel, nos anos setenta. Maratimbas caminham tranquilamente com seus balaios certamente carregados. Ao fundo vemos a Igreja de Nossa Senhora da Penha ainda em seu formato original, assim como a Praia Principal.

Um clima de paz único que ainda habita a memória saudosa de muitos amantes da Pérola Capixaba.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Estrada

Um registro da década de cinquenta, provavelmente durante o governo de Francisco Lacerda de Aguiar, nos traz a construção da Rodovia Safra x Marataízes, na altura do centro de Marataízes.


Temos aqui o contexto do avanço da indústria automobilística que tornaria obsoleto, em pouco tempo, o transporte pela estrada de ferro.

A imagem foi compartilhada na rede por Marisa Gonçalves Mignone.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Praça

A sempre movimentada praça da Barra do Itapemirim nos anos sessenta do último século. 


Observamos o seu casario. Essas fachadas ainda podem ser vistas em alguma parte, mesmo que mutiladas, conferindo ao lugar uma aura histórica que, em todo o município, só pode ser sentida na Barra e em algumas ruas da região central. 

Também chama a atenção a linha férrea. Não é difícil imaginar o dinamismo - não apenas econômico - trazido pelos trilhos para a localidade. A memória associada ao trem em Marataízes atualmente está restrita aos galpões da oficina da Estrada de Ferro Itapemirim, a poucos metros da praça, e à estação do centro.

As pessoas parecem posar para a foto, algo comum num tempo em que, inexistentes ferramentas tecnológicas aliadas ao descartável, se pensava um pouco mais no valor do registro para a posteridade. Também é fácil supor o desejo dos presentes, mesmo sem saber que são essas pessoas, de mostrar uma parte de sua rotina, da qual deviam se orgulhar. 

A imagem compõe o valioso acervo da família Soares, mantido por Ivilisi Soares de Azevedo. Esta e outras fotografias estiveram expostas na antiga sede da Associação Cristã Beneficente - ACB.

sexta-feira, 10 de março de 2017

"O olhar de um pescador maratimba"

Em reverência à centenária "Festa das Canoas", um dos maiores patrimônios históricos e
culturais do nosso município, a "Memória Marataízes" publica um ensaio de autoria de
Laryssa da Silva Machado e Lucas da Silva Machado, professores de História e alunos do
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo -
UFES. O trabalho foi produzido para a disciplina Memória e História Oral, ministrada
pelas professoras Maria Cristina Dadalto e Syrléa Marques Pereira.

Partindo do depoimento do seu avô, Adilson Julião da Silva, Laryssa e Lucas reconstroem
parte da história da família, tendo como pano de fundo a pesca, fio condutor da vida de
Adilson, um senhor de mais de 70 anos que acompanhou grandes transformações do
cotidiano de Marataízes. Um depoimento riquíssimo, com detalhes importantes que
ajudam a contar a história da "Praia Encantada" e os homens maratimbas, passando
também pelo pujante comércio da Barra do Itapemirim que, aliás, é destacada no texto
pelo histórico do seu porto, cuja importância para o desenvolvimento socioeconômico
da região a partir de meados do século XIX é inegável.

Um trabalho que aponta para uma Marataízes bucólica, romântica, recriando espaços e
tecidos sociais, além de mostrar a importância e a urgência do trabalho da História Oral.
As imagens ao fim do ensaio nos tornam um pouco íntimos do senhor Adilson, levando
a nossa imaginação ao "mundo do trabalho" do típico maratimba. A "Memória
Marataízes" tem a honra de publicar o presente ensaio, agradecendo aos seus autores,
e anseia que ele inspire outras pesquisas do gênero.

Apenas uma observação de ordem técnica: as eventuais deformidades relacionadas aos
padrões exigidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, destacando de
antemão as notas de rodapé, são de total responsabilidade da "Memória Marataízes". O
"Blogger" não reconhece algumas formatações.
Com vocês, "O olhar de um pescador maratimba"!

ENSAIO FINAL: O OLHAR DE UM PESCADOR MARATIMBA


De quantos homens simples é feita a história? Quantas histórias de pessoas sem status social, sem escolaridade, sem grandes fortunas, permanecem sem aparecer? Até quando a história pessoal contribui para a construção da história local, nacional e mundial? Qual a verdadeira importância de homens e mulheres comuns, personagens anônimos da história? Segundo Le Goff “A ideia da história como história do homem foi substituída pela ideia da história como história dos homens em sociedade.” (1990, p.09) O presente ensaio contará um pouco da história de um desses homens, senhor Adilson Julião da Silva, pescador e testemunha de mudanças ocorridas no sul do Espírito Santo nas últimas décadas.


Este trabalho traz um traço emocional, uma vez que o entrevistado é nosso avô. Pretendemos reconstruir um pouco de nossa história familiar através deste ensaio. Vários autores escreveram as histórias de suas famílias a partir de relatos da história oral. Um destes foi Alistair Thompson, que escreveu a história de sua família, remontando não apenas os laços familiares, mas as relações estabelecidas por ela, causando inclusive, um desconforto entre ele e seus familiares, principalmente seu pai (1). Não pretendemos causar um desconforto familiar, ao contrário, queremos com este ensaio escrever nossa história familiar a partir do ponto de vista do nosso patriarca.


Nasceu na localidade de Brejo dos Patos, município de Marataízes (2), em 06 de novembro de 1941, sendo registrado, porém, no dia 14 de março de 1943 (3). Sua vida marcada por muita dificuldade. Por ser de uma família muito pobre, como a maioria das famílias da região, desde muito cedo, com oito anos, precisou trabalhar para ajudar sua família, como conta.


Quando eu era pequeno, eu fui trabalhar com meu pai em Cambaíba, estado do Rio (4), cortando cana. Quando terminou a moagem, com seis meses, viemos embora para Boa Vista, onde nós morávamos. De lá eu fui pescar na canoa de pau ruliço, a canoa era dois panos, pegar pescada. Ai meu pai resolveu vir para Marataízes, viemos. Em Marataízes eu fui quebrar concreto, que era pedra né, pra fazer concreto, e trabalhei em padaria, trabalhei de ajudante de pedreiro, depois voltei para pescar. Pescava de arrasto, chegava no verão pescava de arrasto e no inverno trabalhava na usina (5), cortando cana, capinando de enxada, roçando de foice. Ai depois fomos trabalhar pra vender esteira na Barra, no Trapiche da Barra (6). Minha mãe e meu pai faziam esteira e nós íamos vender dia de domingo. Depois disso fui trabalhar na areia de ouro, numa produção de areia de ouro, lá no Pontal, junto com meu pai. Ai depois fui pescar a barco a motor em Marataízes. Trabalhando de barco a motor, o barco tombou uma vez em alto mar, quase que nós morremos em cinco pescadores. Outra vez, passado uns tempos, o barco afundou outra vez comigo lá em alto mar, nós estávamos em três, quase morremos outra vez.  Passou disso aí nós viemos embora. Ai eu comecei a trabalhar sendo dono de arrasto, pescava de arrasto. Ai depois dessa vez eu já comecei a trabalhar pescando lagosta, pesquei lagosta muito tempo. Depois da pescaria de lagosta eu fui trabalhar comprando e vendendo, fui comprar e vender. Foi aonde eu arrumei minha vida, foi nisso aí (7).


Filho de Onório João Julião da Silva e Rosalina Amélia da Silva, conhecida como “Mulatinha”, era o quinto filho de um total de 12 irmãos, sendo que um faleceu ao nascer. Tanto seu o pai, quanto seu irmão Sebastião, se suicidaram, aquele se envenenou devido ao vício no alcoolismo e este se matou por contrair uma doença venérea. Outras duas irmãs também são falecidas, Maria da Penha, chamada de Pepenha, que morreu após contrair o vírus HIV cuidando de seu filho, que também faleceu dessa doença e Celícia, que morreu de Alzheimer. Os outros irmãos são: Celita, Celina, Catarina, Celi, Nicácio, Jaciro, Benedito. Quando seu pai faleceu, sendo ele o mais velho dos filhos homens, ficou com a responsabilidade de cuidar da família. Segundo ele, quando seu pai faleceu “deixou sete crianças pequenas, quem criou tudo foi eu [...] deixou um bebezinho de dois anos, Celi.” (8)


Tanto sua família materna quanto paterna são de Itapemirim. Interessante que, sempre ouvimos dizer, em reuniões familiares, que a família de nossa bisavó, Rosalina, tinha vindo de Portugal. Essa informação não procede, segundo ele, sendo a família de seu pai de Brejo dos Patos e de sua mãe da Vila de Itapemirim.


Casou-se com Eliza Campos da Silva, no dia 16 de junho de 1962, ambos com 19 anos de idade. Esta estava grávida de cinco meses de sua filha mais velha, Elizanda, nossa mãe. Durante um tempo moraram com dona Rosalina, pois não tinham condições financeiras de construírem uma casa. Com o passar do tempo, construíram uma pequena casa, ao lado da casa da nossa bisavó, e depois de muitos anos, em 1975, construíram outra, maior, em outro bairro. Essa casa se transformou em um sobrado, que depois virou quatro casas. Hoje o casal possui cinco casas.


Da união com Eliza nasceram Elizanda, Luizinete, Paulo César, Luzimar e Rosemere. Na entrevista dada a nós, ele diz o seguinte sobre seu casamento:


Eu casei com sua avó eu tinha dezenove anos de idade [...] Era rapaz solteiro e fazia serenata, cantava e tocava violão pra poder distrair, e aí a gente arranjou uma namorada [...] Quando nós casamos nós fomos a pé daqui [Marataízes] na Vila [do Itapemirim]. Fomos a pé, chegou lá nos casamos e de lá viemos embora de ônibus. O casamento só fazia na Vila, todo mundo casava na Vila. E pra ir não tinha dinheiro pra ir e voltar, só dava pra voltar, nós fomos a pé e voltamos de ônibus. (9)


Alguns eventos familiares marcaram a história da nossa família. Um foi o acidente envolvendo nossa mãe Elizanda, quando era criança. O outro, também um acidente, envolveu nosso pai, Luiz Carlos.


Eu pescava de arrasto [...] e com três anos de idade, nós não tínhamos luz em casa, energia, era lamparina. Ai eu sai pra pescar e sua avó dormindo, ela [Elizanda] levantou e foi brincar com a lamparina acesa e pegou fogo na roupa dela. Sua avó ao invés de correr e abafar com um pano, uma coberta, saiu correndo abraçada com ela pro lado de fora. E nisso aí foi onde o fogo pegou nela e queimou [...] Quem socorreu foi os vizinhos, eu não vi, eu estava pescando [...] Quando eu cheguei ela estava toda ruim. Aqui não tinha hospital não [...] Nós cuidamos em casa mesmo. Era o farmacêutico que tinha era Demétrios, Antonico, na Vila, e Newton. Aí quando ela ficou muito ruim mesmo, que tava quase morre-não-morre, foi que nós levamos pra Cachoeiro [do Itapemirim]. Eu conversei com Almir Melo, que era farmacêutico em Cachoeiro e ele mandou que levasse. Não tinha condução e não tinha dinheiro pra pagar condução também. Eu cheguei no hotel Maraguá, tava um cara  no Jeep e eu pedi a ele, e ele levou pra Cachoeiro. Levou ela pra Cachoeiro, a estrada de chão ruim, e pra vir embora, meu cunhado me trouxe, no carro da empresa. A vida foi difícil pra caramba [...] Ela não ficou internada não. Chegava lá o médico dava uma limpeza, passava remédio pra passar nela e trazia pra casa [...] Pra Belo Horizonte ela foi depois que já estava grandinha. Ai ela ficou internada lá umas semanas, mais ou menos, pra fazer cirurgia plástica. Ai ela já estava grande já [...] A vida é longa pra ‘cacete’. (10)


Sobre o acidente do nosso pai:


Quando eu estava com essa casa quase pronta (11), aí eu sofri um acidente, eu, meu filho e meu genro, meu genro está na cadeira de rodas até hoje, já tem 25 anos. Eu fui trabalhar no fusca do meu genro [Vanderlei, esposo de Luzinete] pra poder sobreviver. Tirei os bancos do fusca, botei as tabuas e carregava peixe do Estado do Rio pra cá. A minha vida foi assim até eu arrumar minha camionete, que eu tenho até hoje. E de lá pra cá eu comecei a melhorar, graças a Deus, ‘tô numa boa’. Não posso reclamar de mais nada da vida. Tudo o que eu já sofri, tudo o que eu já possui, e hoje eu ‘tô bem’, graças a Deus. Consegui a aposentadoria e ainda tenho dois barquinhos de pesca, e estou sobrevivendo. (12)


Interessante no depoimento de nosso avô é que, em todo momento sua profissão de pescador está presente. Direta ou indiretamente, a pesca decidiu e transformou a sua vida. Não só ele, como vários outros homens de Marataízes, mudaram suas vidas através da pesca. Na realidade, a localidade de Marataízes e a pesca estão intimamente ligados. O mar não apenas banha está cidade, mas fez com que a mesma se moldasse. Tanto no hino do município quanto nas letras dos poetas locais, o Mar de Marataízes é louvado.


Hino de Marataízes (13)
Amor
É uma praia assim
É ter alguém
Ter você para mim
E ao luar
Como é bom viver
Sempre a sonhar
Com o seu bem querer
Marataízes
Linda Praia encantada
A ti eu devo
Esta mulher amada
Marataízes
Tu és felicidade
Para quem amou
Serás sempre saudade


Marataizes Marata (14)

Nas Turcas bem cedo
Nas pedras do porto
Na praia do centro
Galera do morro
Eu aprendi a amar pai me ensinou a nadar
Mãe me dizia meu filho volte pra casa mais cedo
Cuidado com arrieiro
Brindei vários carnavais e recitei poesias
Atrás do trio dancei
O mundo é tão singular
Da Boa Vista, Cidade Nova, Lagoa D´Antas, Lagoa Funda
Pontal da Barra a Imburi
Marata terra pertenço a ti
Eu vou cantar -te nos meus sonhos
Marataízes eu te amo
Pequena terra grande berço
Marataízes tens a paz
Tens vaidades e segredos
Oh minha pérola capixaba
Faz parte de um grande sonho
Pra sempre quero te amar
Nas turcas bem cedo
Nas pedras do porto
Na praia do centro
Galera do morro
Eu aprendi a amar pai me ensinou a nadar
Mãe me dizia meu filho volte pra casa mais cedo
Cuidado com arrieiro
Brindei vários carnavais e recitei poesias
Atrás do trio dancei
Um mundo feito pra mim
Que Boa Vista, Areias Negra, Praia da Cruz, Lagoa do Siri
Lá na Colônia a lua cheia
Marataízes estou aqui
Eu vou cantar -te nos meus sonhos
Marataízes eu te amo
Pequena terra grande berço
Marataízes tens a paz
Tens vaidades e segredos
Oh minha pérola capixaba
Faz parte de um grande sonho
Pra sempre quero te amar


Aqui é o lugar que chamam de Marataízes (15)
Aqui dessa praia se tem lá do norte
Um vento bem forte que é pra amenizar
Do sul vêm imaginações
Que fazem na noite gente se soltar
De leste nasce o sol
Que limpa o olhar
Do oeste se tem as minas
Que trazem recordações gerais
Nosso coração aprende
Coisas bonitas cada vez mais
Aqui é o lugar que chamam de Marataízes
E o mar vem debruçar na areia branca
De sua praia molhada de amar 


Nacionalmente conhecida como “Pérola Capixaba”, Marataízes ganhou destaque nacional a partir da década de 1970 através do turismo. Porém, muito antes disso, boa parte dos poucos moradores da localidade, então pertencente ao município de Itapemirim (16), viviam da pesca ou das atividades comerciais ligadas ao Porto da Barra. Através das lembranças da infância do nosso avô pode-se perceber as mudanças ocorridas na região ao longo dos anos.


Marataízes não tinha nada, nada, não tinha quase casa nenhuma. Depois de ‘muita raça de tempo’, aqui era ‘mato puro’. O barco chegava de pescar e nós passávamos num beco, um ‘bequinho’ que era mato puro e um caminho, um beco, pra nós irmos pra praia. Era o caminho que tinha, não tinha essas casas todas que tem hoje não. Aquela rua (17) ali era um brejo d’água direto, desbocava ali e saía pro mar. Vinha lá do falecido João Pires. Não tinha nada pra dizer que isso aqui era uma cidade não. Isso aqui era uma ‘roça’, mato, mato, mato, puro. [...] Começou a melhorar as casas aqui foi na época que fez o primeiro condomínio, que Marataízes começou a crescer. Isso tem ‘muita raça’ de ano. Eu tinha, mais ou menos, uns 13-14 anos. Nós fazíamos esteiras e vendíamos lá na Barra, no Trapiche [...] Na Barra não tinha nada não, só tinha uns ‘casarão’ e um comércio, que era do seu Zeca Freire. O navio entrava lá no rio (18), ‘panhava’ mercadoria, ‘panhava’ feijão, arroz, milho, entendeu, esteira. O rebocador rebocava o navio e saía pro mar afora. Tinha uma porção [de navios]. Eles ficavam igual em Ubu (19), aquele monte de navios ancorados. Entrava um, carregava, o rebocador tirava ele fora e entrava o outro [...] Eram grandões. Aqui (20) não tinha barco de pesca não na época. O barco de pesca que tinha aqui era a vela, não tinha motor nenhum. Isso deve ter uns 60 anos ou mais. Nós fazíamos [esteira] em casa e dia de sábado nós levávamos pra Barra pra vender [...] Tinha o trem que vinha de Cachoeiro pra cá, não tinha condução nenhuma, não tinha ônibus, não tinha carro, não tinha nada. Aqui não tinha carro. O primeiro carro que tinha aqui foi Walter Pena que comprou, F-600. Era o único carro que tinha aqui. Agora tinha um trem, que a gente pegava mala do pessoal que vinha de Cachoeiro pra aqui, o pessoal ia começar a construir aqui. Aí eles vinham de Cachoeiro e traziam o mantimento, aqui não tinha comércio, eles traziam o mantimento. Aí nós esperávamos o trem pra pegar as coisas deles, uma ‘corriola’ de rapaz [...] [No Trapiche] funcionava os compradores de café, feijão, de milho, de arroz, comprava pra vender nos navios. Carregava pra Vitória [...] Era muita quantidade, porque era o navio que carregava, não tinha condução nenhuma. (21)


O Porto da Barra do Itapemirim, citado no depoimento, já foi o mais importante do Espírito Santo. A partir do século XIX, o Porto de Itapemirim, como era chamado por pertencer a esta Vila, ganhou destaque, escoando a produção de café. “O porto marítimo mais importante do sul da costa era o de Itapemirim (...). Deve-se observar que os exportadores remetiam o café para o Rio de Janeiro, de onde era embarcado para o exterior.” (22)

A vila do Itapemirim passou a ganhar cada vez mais destaque a partir da década de 1840, observamos este destaque dentro da província, quando a região nos anos de 1841-42 foi responsável por 11, 3% da receita no estado. Com o surto do café, a receita do sul tendia a crescer, podendo se observar em um intervalo de 25 anos um aumento de mais de 100% na receita da região, fazendo com que, no ano de 1866, Itapemirim fosse responsável por 28% da receita do estado. (23)


A receita da região manteve seu crescimento no decorrer dos anos, este fato fez com que nos anos de 1883-1884 o sul se tornasse responsável por mais da metade das arrecadações com as exportações no estado. “No que diz respeito à importância arrecadada com as exportações em geral, a dita região alcançou mais da metade do total, chegando a 53,07% na década de 1880”. (24)


A Vila do Itapemirim sempre foi grande produtora de cana-de-açúcar. No período em que o café se tornou o principal produto da economia capixaba a Vila do Itapemirim foi responsável por mais da metade das exportações do açúcar, assumindo assim, como principal produtor do gênero na Província. Consequentemente se tornou grande exportador de aguardente, efetuando 100% de todo o escoamento deste produto no ano de 1851.


Analisando os dados presentes nos Relatórios da Província do Espírito Santo, entre os anos de 1857 a 1884, percebe-se que houve um aumento gradativo nas exportações feitas na região sul pelo Porto de Itapemirim.


No ano de 1857 exportou - se 17% do café, 63% do açúcar e 98,5% de aguardente, de toda província. No ano de 1863, este foi responsável por 27% do café, 63% do açúcar e 59% da aguardente, de toda exportações da província. Nos anos de 1873 e 1883-84 o mesmo exportou respectivamente 46, 27% e 57,58% de todo café da província. (25)


Na região sul da província, em localidades como Castelo, Alegre, Muqui e Cachoeiro do Itapemirim, dentre outras, o café foi instalado obtendo grande sucesso, principalmente a partir da segunda metade do século XIX. Na Vila de Itapemirim a cafeicultura não obteve o mesmo sucesso, continuando a produção açucareira do princípio de seu povoamento. A produção do café dinamizou a região sul do Espírito Santo. A navegação a vapor pelo Rio Itapemirim tornou-se de extrema importância para seu escoamento, sofrendo melhorias significativas, possibilitando a navegação por diversas regiões litorâneas, chegando até o Porto da Barra, em Itapemirim, onde as mercadorias eram encaminhadas até o porto do Rio de Janeiro, para serem exportadas. Tal porto era o mais importante da região sul. As vias fluviais desembarcavam toneladas de sacos de café que seguiam para outras regiões. Porém, pelo porto de Itapemirim passavam muitas outras mercadorias além das citadas acima. Um número expressivo de escravos desembarcava assiduamente nas margens do rio Itapemirim para trabalharem nas lavouras de cana-de-açúcar e café.


A construção da Estrada de Ferro de Itapemirim na década de 1920 (26) fez com que a economia na região ganhasse força. Com as melhorias ocorridas na estrada de ferro os trapicheiros passam a ganhar destaque, pois os produtos exportados pela estrada eram negociados nestes terminais (27). Assim, o comércio portuário, que antes já tinha importância graças à navegação pelo rio Itapemirim vai ser dinamizado, trazendo as mercadorias, principalmente o café, que seriam exportadas nos navios cargueiros.


Além disso, como já citado no depoimento do nosso avô, os trens que vinham de Cachoeiro traziam também pessoas, inclusive aquelas que estavam construindo suas “casas de veraneio” aqui. A Barra torna-se o centro comercial da Vila do Itapemirim, já que, graças às atividades do porto os comerciantes locais vão se instalar naquela localidade. Haviam também os chamados “cargueiros” (28), que distribuíam mercadorias adquiridas no Trapiche para os comércios locais.


O lugar que a gente vendia as coisas era na Barra. Aqui (29) quase não tinha nada. [O dono do Trapiche] era Michel Mansur, chamado de coronel Michel, era o coronel daí [...] Os Soares eram os comerciantes [...] O pai daquele Lauro Freire é que era o comerciante que vendia as coisas pra gente, seu Zeca Freire. O comércio que tinha lá era o deles [...] Eles compravam a mercadoria [no Trapiche] e colocava nos armazéns. Carregava de ‘calgueiro(30) [...] Os calgueiros vendiam pros compradores. [No porto da Barra] só tinha só navio só, os barcos eram pequenininhos. [Mas tinham barcos que subiam o Rio Itapemirim]. Na época o rio era cheio, aí dava pros barcos irem. Agora não dá mais não, agora é pedra pura. (31)


Como dito, hoje o rio Itapemirim está em uma situação delicada. O desmatamento e assoreamento deste está fazendo com que o mesmo seque, por isso as pedras estão a mostra. Este rio, que era navegável de sua foz até a região das cachoeiras (32), onde as mercadorias eram embarcadas e desciam o rio até o porto. Além da navegação, hoje impossível, a seca do rio também causa um problema à população, já que são estas águas que abastecem os municípios de Marataízes e Itapemirim.


[O rio está secando] porque eles desmataram, acabaram com as matas e abriram muitas valas nas baixadas, aí foi onde secou o rio. Portanto que, com essa chuvinha que deu agora, você vai daqui pra Cachoeiro que as valas estão todas cheias e o rio está seco, porque a água pega e vai embora pelas valas. [Os brejos que tinham em Marataízes] secou tudo, eles aterraram [...] É por isso que dá essa seca brava que está aí. (33)


É interessante observar a importância dada aos problemas ambientais, já que afetam uma das principais atividades econômicas da região, que é a pesca. Hoje a atividade pesqueira em Marataízes, apesar de continuar muito importante, enfrenta os problemas causados pelos impactos ambientais, não tendo mais o mesmo vigor que tinha antigamente.


A atividade pesqueira, fundamental para o desenvolvimento de Marataízes, foi a principal fonte de renda da localidade, por muitos anos. Segundo nosso avô, pescar era a profissão mais acessível na época. “Eu tinha que pescar de arrasto [...] Era a profissão que tinha [...] Cortava cana na usina (34) no inverno e no verão pescava de arrasto.” (35) Foi a pesca que fez com que nosso avô construísse a vida, possibilitando que ele ajudasse a família da sua mãe e criasse seus filhos.


A pesca aqui, quando começou aqui, todo mundo pescava de anzol, nunca ninguém pescava de rede. Aí o falecido Eli precisava de dinheiro, me falou assim: “Adilson, eu tô precisando de um dinheiro, dois mil, você tem esses dois mil pra me arrumar, eu vou fazer um barco de pesca pra você.” Eu falei: “tá bom, vou te emprestar os dois mil.” Emprestei os dois mil a ele. Ele fez um barquinho pra mim, que era o Sagre. Aí eu não tinha como trabalhar com o Sagre porque o motor era a gasolina, entendeu, virava na frieira. Aí ele foi  na Barra e me deu um crédito pra comprar rede pra trabalhar. Eu comprei rede na Barra, preparei e comecei a pescar lagosta de rede. Era muita lagosta mesmo naquela época. Aí eu vendia pra Wilson, Wilson não aguentou, comecei a vender pra uma tal de Andreia, que tinha na Barra, aonde já era o Trapiche, onde nós carregávamos e vendíamos esteira. Isso já faz muito tempo já.  (36)


Ele, como tantos outros pescadores, fizeram suas vidas, formaram e cuidaram de suas famílias e deram aos seus filhos e netos um futuro melhor que o deles, graças à pesca. Meu avô, que não frequentou a escola na infância, pois precisava ajudar suas famílias, aprendeu a ler quando era idoso. Seus filhos, porém, frequentaram a escola e obtiveram uma outra profissão, graças aos estudos, exceto Paulo César, que também se tornou pescador. Elizanda tornou-se Técnica em Enfermagem, atualmente com mais de 30 anos de profissão. Luzinete e Rosemere se formaram professoras. Luzimar, a mais promissora, é doutora em Fisiologia Vegetal e professora da Universidade Federal de Viçosa.


Histórias simples podem sim colaborar com a história. A grandiosidade da história oral, que pode ser observada neste trabalho, é tornar as simples experiências de um pescador de Marataízes, interior do Espírito Santo, em um documento que pode ser lido e apreciado por outras pessoas. Encerrando este trabalho, nada melhor que esta frase, que resume bem a vida do nosso avô: “Não posso reclamar de mais nada da vida. Tudo o que eu já sofri, tudo o que eu já possui, e hoje eu ‘tô bem’, graças a Deus.”


Acervo Fotográfico de Adilson e Eliza


Pescaria de Arrasto. Marataízes-ES, década de 1970.
Pescaria de Arrasto. Marataízes-ES, década de 1970.


Barco de Pesca de Arrasto. Marataízes-ES, década de 1970.


Barco de Pesca de Arrasto. Marataízes-ES, década de 1970.


Reunião de pescadores. Marataízes-ES, década de 1970.
Barco Sagres durante a Festa das Canoas. Marataízes-ES, década de 1970.


Barco Marataízes. Marataízes-ES, década de 1990.



Barco Marataízes II. Marataízes-ES, década de 1990.


Barco Marataízes III. Marataízes-ES, década de 1990.


Barco As Baleias. Marataízes-ES, década de 1990.


Pesca do Mero. Marataízes-ES, década de 1990.


Pesca do Mero. Marataízes-ES, década de 1990.




Adilson Julião da Silva. Marataízes, década de 1970.




NOTAS


(1) THOMPSON, A. Quando a memória é um campo de batalha: envolvimentos pessoais e políticos com o passado do exército nacional. 1998.

(2) Neste período a localidade de Brejo dos Patos, como outras localidades citadas, Marataízes, Vila do Itapemirim, Barra do Itapemirim, Pontal e Boa Vista, faziam parte do município de Itapemirim, um dos primeiros municípios do Espírito Santo, fundado em 27 de junho de 1815. Este município “[...] abrangia todo o sul do estado do Espírito Santo até a fronteira com Minas Gerais. O município ocupa justamente a região do baixo rio Itapemirim, que com seu afluente, o rio Muqui do Norte, tem importância decisiva na vida sócio econômica da região.” (ITAPEMIRIM [Município], 2016)
(3) Costume comum na época, muitas crianças recebiam uma outra data de nascimento ao serem registradas.
(4) Município de Campos dos Goitacazes, norte do estado do Rio de Janeiro.
(5) Usina Paineiras.
(6) Barra do Itapemirim.
(7) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(8) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(9) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(10) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(11) Casa onde ele e nossa avó moram. Foi onde ele deu a entrevista.
(12) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(13) BRAGA, Newton (letra); BRAGA, Izabel Cúrcio.
(14) BABIM, David. Nesta letra o compositor cita o nome de várias praias e localidades do município de Marataízes, sendo estas: praia das Turcas, Praia do Centro, Boa Vista, Cidade Nova, Lagoa D´Antas, Lagoa Funda, Pontal da Barra, Imburi, Areias Negra, Praia da Cruz e Lagoa do Siri. Também cita o apelido que tornou Marataízes nacionalmente “Pérola Capixaba”.
(15) BAÍCO.
(16) O município foi criado em 14 de janeiro de 1992, pela Lei Nº. 4.619 e instalado em 10 de janeiro de 1997, desmembrando-se de Itapemirim. (MARATAÍZES [município], 2016)
(17) Avenida Atlântica.
(18) Rio Itapemirim.
(19) Distrito do município de Anchieta-ES.
(20) No Porto da Barra do Itapemirim, não em Marataízes.
(21) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(22) HESS, FRANCO, 2005, p. 34
(23) RELATÓRIO DA PROVINCIA DOS ESPIRITO SANTO 1852/1867
(24) QUINTÃO, 2011
(25) RELATÓRIOS DA PROVÍNCIA DO ESPÍRITO SANTO NOS ANOS DE 1857; 1863; 1864; 1873; 1883-84
(26) Relatório do Presidente da Província Bernardino de Souza Monteiro 1920.
(27) Relatório do Presidente da Província Aristeu Borges de Aguiar 1930.
(28) Cargueiros eram distribuidores comerciais que iam a cavalo ou burro, com balaios, comprando mercadorias e distribuindo nos armazéns.
(29) Marataízes
(30) Cargueiros.
(31) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(32) Cachoeiro de Itapemirim. O nome do município, inclusive faz referência a estas cachoeiras.
(33) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(34) Usina Paineiras.
(35) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.
(36) SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 12 de agosto de 2016.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA



Entrevista


SILVA, Adilson Julião. Depoimento, Marataízes-ES, 2016.


Bibliografias


BABIM, David. Marataízes Marata. Disponível em < https://www.cifraclub.com.br/david-babim/marataizes-marata/>. Acesso em 14 de agosto de 2016.


BAÍCO. Aqui é o lugar que chamam de Marataízes. Disponível em < http://novamarataizes.blogspot.com.br/2009/12/marataizes-na-voz-de-didito-e.html>. Acesso em 14 de agosto de 2016.


BRAGA, Newton; BRAGA, Izabel Cúrcio. Hino de Marataízes. Disponível em < http://www.marataizes.es.gov.br/pagina/ler/1003/simbolos_oficiais>. Acesso em 14 de agosto de 2016.


HESS, Regina Rodrigues/ FRANCO, Sebastião Pimentel. A República e o Espírito Santo – 2ª ed., Vitória, ES: Multiplicidade, 2005.


ITAPEMIRIM (Município). Prefeitura Municipal de Itapemirim. Disponível em <http://www.itapemirim.es.gov.br/exibir.aspx?pag=historia>. Acesso em 13 de agosto de 2016.


LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas-SP, Editora UNICAMP, 1990.


MACHADO, Laryssa da Silva; BLANCO, Graciete de Oliveira; CAVALINE, Carlos Renato da Silva. NASCIMENTO E MORTE: UMA ANÁLISE DA POPULAÇÃO ESCRAVA A PARTIR DOS REGISTROS DE BATISMO E ÓBITOS DE ITAPEMIRIM-ES NO PERÍODO DE 1860 À 1870. Revista Camiliana de Iniciação Científica. Cachoeiro de Itapemirim-ES, v. 3, n. 1, 2008, p.07-16.


MARATAÍZES (Município). Prefeitura Municipal de Marataízes. Disponível em < http://www.marataizes.es.gov.br/pagina/ler/1002/perfil_historico>. Acesso em 14 de agosto de 2016.


QUINTÃO, L. C. Sob olhares e anseios: a relevância da região sul capixaba no contexto do século XIX (1855-1895). In: MARIN, Andréia et al (Org). Vestígios da História sul capixaba em 11 narrativas. Vitória: Flor&Cultura, 2011. p. 103-119.


THOMPSON, Alistair. Quando a Memória é um Campo de Batalha: Envolvimentos Pessoais e Políticos com o Passado do Exército Nacional. Proj. História. São Paulo, fev 1998.